O professor Ledo Vaccaro e a contação de histórias no ensino de Matemática
- Aline Matheus

- há 17 horas
- 3 min de leitura
Vira e mexe, aparece para mim algum corte de aula do professor Ledo Vaccaro no YouTube. São tantos vídeos, disponíveis há tanto tempo, que já fazem parte da paisagem do meu algoritmo — quase um velho conhecido que passa pela calçada e acena, mesmo que eu não pare para conversar. Mas, por incrível que pareça, eu nunca tinha me detido suficientemente nesses vídeos e em seu protagonista. Não por falta de mérito do professor, claro, mas porque, nesse mundo saturado de informação, muitos tesouros passam batidos mesmo quando estão bem debaixo do nosso nariz.
Dias atrás, porém, me deparei com um vídeo dele, em um momento propício, e… fiquei encantada! O professor Ledo é um grande contador de histórias, talvez um de seus trunfos mais marcantes como professor de matemática. Não que lhe faltem outras qualidades — longe disso —, mas essa realmente salta aos olhos. À semelhança do grande mestre brasileiro nessa arte, Júlio César de Mello e Souza (1895 - 1974), o eterno Malba Tahan, Ledo captura seu público logo de cara. Ele começa com uma situação curiosa, vai puxando o fio aos poucos, e quando percebemos já fomos conduzidos por uma sequência de grandes ideias, explicitadas com clareza e carregadas de significado.
E contar histórias é, afinal, uma das mais antigas e eficazes estratégias para ensinar e envolver pessoas. Na educação, muitos termos circulam e, às vezes, práticas antigas ganham roupagens novas. A contação de histórias, por exemplo, hoje costuma ser chamada de storytelling — um nome importado, usado para uma metodologia específica, mas que, essencialmente, se apoia na mesma arte ancestral de transmitir conhecimento por meio de narrativas. Não vou me aprofundar nas especificidades desse enquadramento contemporâneo — no qual não sou especialista —, mas é importante notar que ele não representa exatamente uma novidade. Muito antes da escrita, já eram as histórias que garantiam a circulação do conhecimento.
O que me interessa aqui é refletir, à luz do que sabemos hoje sobre neurociência da aprendizagem, por que as histórias são tão arrebatadoras e ajudam tanto a aprender.
Algumas pistas que fui coletando em diversas leituras:
Histórias criam contexto, e o cérebro humano aprende melhor quando consegue organizar informações dentro de uma estrutura coerente. Narrativas ativam redes associativas profundas, facilitando a formação de esquemas mentais.
Histórias despertam emoção, e emoção é um dos mais fortes moduladores da memória. Momentos de surpresa, curiosidade ou humor aumentam a retenção e a consolidação das informações.
Histórias mobilizam múltiplas áreas cerebrais, não apenas as ligadas à linguagem. Estudos de neuroimagem mostram que ouvir uma história ativa regiões ligadas à simulação de ação, visão, audição e emoções — o que torna o aprendizado mais “encarnado”, mais vívido.
Histórias reduzem a carga cognitiva, porque organizam a informação em sequências significativas, diminuindo o esforço de processamento.
Histórias criam identificação, e a identificação é uma porta de entrada para a atenção sustentada, condição essencial para aprendizagem.
Também sabemos, hoje, que nenhuma exposição — por mais encantadora que seja — basta para promover aprendizagem profunda. Mesmo quando a narrativa é brilhante, mesmo quando dá sentido e acende a curiosidade, é preciso ir além. Aprendizagem duradoura se fortalece quando os estudantes têm um papel ativo: resolvem problemas, confrontam ideias, geram explicações próprias, transferem conceitos para novos contextos, revisitam o conhecimento de forma espaçada.
Ainda assim, não precisamos ceder às dicotomias tão comuns no debate educacional: explicar versus explorar, expor versus fazer, ouvir versus agir... Proporcionar atividades produtivas não implica abrir mão de explicar — e muito menos de inspirar. Pelo contrário: um bom momento expositivo, quando bem situado no fluxo da aprendizagem, pode ser exatamente o ponto de ancoragem que torna o restante do percurso mais significativo.
E é isso que me chama a atenção no professor Ledo. Ele usa a história não como enfeite, mas como estrutura cognitiva que dá forma ao pensamento matemático. E, dessa maneira, ilustra o que a neurociência já vem nos mostrando: que aprender é, também, se deixar tocar — intelectualmente e afetivamente.
Fica aí um corte de uma aula do professsor Ledo, para você se divertir! :)
E se quiser conhecer mais sobre a trajetória e as ideias do professor, recomendo o próprio site dele: https://www.ledovaccaro.com.br/.

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